sábado, 1 de setembro de 2012

AVÓ SENTADA COM CHAPEUZINHO DE PALHA



AVÓ SENTADA COM CHAPEUZINHO DE PALHA


INFINITA PACIÊNCIA A DO CARDO NAQUELA DUNA

UMA AVÓ COM CHAPEUZINHO DE PALHA

SENTADA A VER O MAR E A FLOR

a família está na água


(...continua)


POEMA
de
ABEL NEVES


Gosto de comprar o Jornal "Público" aos sábados,

pois contém a revista "Fugas"

e descobri que em 2011 também havia uma rúbrica intitulada:

POEMA AO SÁBADO

e, foi assim que descobri este belo poema de Abel Neves

associo sempre uma imagem minha aos poemas que transcrevo,

é certo que na imagem em causa,

esta doce avó não tem chapéu de palha,

mas está sentada e tem junto a ela "cestos de verga"

feitos por aquelas hábeis e já enrugadas mãos.

Acho a foto uma delícia, daí que fiz a associação.

(indo aos comentários acabam de ler o belo poema)

7 comentários:

  1. infinita paciência a do cardo naquela duna
    uma avó com chapeuzinho de palha
    sentada a ver o mar e a flor
    a família está na água
    e a velha senhora com um sorriso chama chama
    chama e chama
    há muitas algas ruídos e coisas assim
    ela chama
    a avó está a chamar diz o netinho com o nariz na onda
    uma das filhas vai e o que ela quer
    é melancia mas não há
    a velha sorri para a flor do cardo
    onde é que agora vão buscar melancia?
    mas o marido da filha vai
    sem gosto no que faz o homem vai
    ao restaurante e volta
    com a talhada na mão
    agora a avó está a comer a melancia
    e todos voltam com as suas vozes ao mar
    que manhã que sol
    a velha senhora pousa a casca da melancia sobre as pernas
    ainda lhe sente o fresco no algodão preto do vestido
    e grainhas na língua
    ainda olha o cardo e a duna e o marido que morreu há muito
    a vida toda passa e ela adormece
    o neto ainda diz
    a avó já não quer a melancia
    mas ninguém o ouve
    que sol que mar
    a Grécia tem manhãs assim

    (Abel Neves)

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  2. Abel Neves
    (Montalegre, 1956)
    é um dramaturgo e romancista português.

    Nascido em 1956, em Montalegre,
    num dia de nevão de Primavera,
    Abel Neves passou ali a primeira infância,
    na companhia dos pais e das duas irmãs mais velhas.

    Ainda hoje tem família naquela vila transmontana.
    Lembra-se de adorar brincar com fisgas e de construir verdadeiros trenós, com uma tábua de madeira, com uma barra de sabão por baixo. Quando nevava,
    deslizava a velocidades estonteantes
    numa certa ruazinha inclinada para onde ia com os amigos,
    com quem também jogava muito à bola
    continua a gostar muito de futebol, sendo adepto do Porto.
    Também brincava sozinho, em casa,
    imaginando-se maestro de uma grande orquestra.

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  3. Saiu cedo de Montalegre, mas voltava muitas vezes nas férias.
    O pai, funcionário público,
    foi variando de postos e a família andou a cirandar um pouco por todo o país.
    Fixaram-se em Gaia e mais tarde em Lisboa.

    O adolescente Abel Neves que começou a escrever aos 14 anos foi estudar para o Liceu Camões.
    Desde sempre apaixonado pelos livros, tinha lido A Aparição, de Vergílio Ferreira e comprara nesse ano o romance Nítido Nulo.

    O autor era então professor no liceu, mas Abel não era seu aluno.
    Um dia, munido de toda a coragem que conseguiu reunir
    e com o livro na mão,
    entrou na sala de aulas onde estava o escritor.
    Queria pedir-lhe um autógrafo.
    "Nunca mais me esqueci do que me disse,
    olhando alternadamente para mim e para o livro:
    Quem é que te mandou cá, rapaz?".
    "Ninguém".
    Gostava muito do autor e só queria uma dedicatória.
    Ficou algo desiludido quando este apenas assinou o seu nome.
    ...

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  4. Acabado o liceu, escolheu seguir Filosofia,
    na Faculdade de Letras.
    E, quase no fim do curso, desistiu para se dedicar ao teatro. Apresentou um texto
    (O Elogio do Dia) a João Mota, que não conhecia.

    O actor e encenador gostou do que leu e apostou no rapaz de 22 anos.
    "Foi muito estimulante esse tempo na Comuna", recorda Abel Neves.

    Nos 12 anos que esteve na companhia, de 1979 a 1991, fez de tudo.
    Foi actor, fez dramaturgias, ajudou nas luzes, mudou as tábuas do palco.
    "O teatro é uma casa e quem lá está dentro deve participar em todos os aspectos da vida daquele lugar", reflecte.
    Saiu quando se "esgotou" o tempo da sua passagem por ali.
    Não voltou a trabalhar em exclusivo com nenhuma companhia,
    embora tenha colaborações regulares com algumas,
    como o Teatro da Serra de Montemuro, que acompanhou desde o início.

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  5. A ideia de viagem também é uma constante em mim...
    Adorei a foto!
    Beijinhos.

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  6. Uma paragem no tempo para cumprimentar e agradecer a uma avózinha assim...

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  7. Tens razão, a imagem acaba por se enquadrar perfeitamente no poema :)
    Deixo um beijito.

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