sexta-feira, 30 de março de 2012

O CAÇADOR DE RAÍZES - PABLO NERUDA



“Eu pertenço à fecundidade

e crescerei enquanto crescem as vidas:

sou jovem com a juventude da água,

sou lento com a lentidão do tempo,

sou puro com a pureza do ar,

escuro com o vinho da noite

e só estarei imóvel quando seja

tão mineral que não veja nem escute,

nem participe do que nasce e cresce.


Quando escolhi a selva

para aprender a ser,

folha por folha,

estendi as minhas lições

e aprendi a ser raiz, barro profundo,

terra calada, noite cristalina,

e pouco a pouco mais, toda a selva.”


(NERUDA, Pablo.

O Caçador de raízes.

Antologia Poética,

José Olympio, 1994, p. 232.)

terça-feira, 20 de março de 2012

DIA MUNDIAL DA FLORESTA - DIA DA ÁRVORE


Poema da Árvore

"As árvores crescem sós.

E a sós florescem.

Começam por ser nada. Pouco a pouco
se levantam do chão, se alteiam palmo a palmo.

Crescendo deitam ramos, e os ramos outros ramos,
e deles nascem folhas, e as folhas multiplicam-se.

Depois, por entre as folhas, vão-se esboçando as flores,
e então crescem as flores, e as flores produzem frutos,
e os frutos dão sementes,
e as sementes preparam novas árvores.

E tudo sempre a sós, a sós consigo mesmas.
Sem verem, sem ouvirem, sem falarem.
Sós.
De dia e de noite.
Sempre sós.

Os animais são outra coisa.
Contactam-se, penetram-se, trespassam-se,
fazem amor e ódio, e vão à vida
como se nada fosse.

As árvores, não.
Solitárias, as árvores
exauram terra e sol silenciosamente.
Não pensam, não suspiram, não se queixam.

Estendem os braços como se implorassem;
com o vento soltam ais como se suspirassem;
e gemem, mas a queixa não é sua.

Sós, sempre sós.
Nas planícies, nos montes, nas florestas,
A crescer e a florir sem consciência.

Virtude vegetal viver a sós
E entretanto dar flores."
(António Gedeão)



(fotos minhas)

terça-feira, 13 de março de 2012

DESTINO



"Nenhum trompete toca

quando são tomadas

as decisões importantes de nossa vida.

O destino é anunciado silenciosamente."

(Agnes De Mille)

domingo, 4 de março de 2012

CADA PORTA, UMA ESCOLHA




Cada porta, uma escolha.

Muitas vão se abrir para um nada ou para algum absurdo.

Outras, para um jardim de promessas.

Alguma, para a noite além da cerca.

Hora de tirar os disfarces,

aposentar as máscaras e reavaliar: reavaliar-se.